O filme também é histórico ao apresentar atrizes e atores negros como protagonistas, valorizando as particularidades culturais e históricas dos povos africanos para além dos estereótipos. Sem contar as personagens femininas do filme, que têm papel fundamental para o desenrolar da trama.Além disso, Pantera Negra é repleto de
referências históricas, políticas e culturais que contam a trajetória do movimento negro nos Estados Unidos pela luta por direitos sociais.
Assim como no Brasil, a sociedade norte-americana conviveu com a escravidão de seres humanos durante séculos, deixando cicatrizes ainda não curadas, como a segregação, a falta de oportunidades iguais e a desigualdade econômica entre brancos e negros.
Baltimore, a cidade do Pantera Negra
Na primeira cena do filme, é mostrado um flashback que acontece em Oakland, nos Estados Unidos. A escolha desse local não é por acaso: a cidade localizada no estado da Califórnia foi o berço do movimento do Partido dos Panteras Negras, que surgiu como reação após episódios seguidos de violência policial cometidos contra a população negra.
Vale lembrar que em plena metade do século 20, alguns estados norte-americanos mantinham leis de discriminação racial que não eram diferentes daquelas praticadas pelo regime branco sul-africano do Apertheid ou das primeira leis segregacionistas da Alemanha nazista. Até a década de 1960, por exemplo, salas de aula, assentos de ônibus e bebedouros eram divididos para a população branca e para a população negra.
Diante disso, movimentos e líderes negros lutaram por direitos de mínima igualdade civil. Alguns deles, como o pastor Martin Luther King Jr. (assassinado em 1968) pregava um ativismo pacífico pela conquista de direitos. Já lideranças como Malcolm X (assassinado em 1965) e os membros do Partido dos Panteras Negras acreditavam que apenas superariam a situação de opressão por meio de métodos revolucionários e violentos — em termos gerais, o personagem Killmonger (interpretado por Michael B. Jordan) é fruto direto desse cenário de tensão social. Ele é responsável por uma das frases mais fortes do filme, quando relembra os anos de escravidão sofridos pelos antepassados africanos.
Foi apenas em 1964 que uma Lei de Direitos Civis foi promulgada nos Estados Unidos, que extinguiu as leis de segregação racial adotadas por alguns estados da federação.
Pantera Negra retrata a riqueza das etnias que compõem a África. De certa forma, o reino fictício de Wakanda é uma pequena utopia que representa as potencialidades de todos os países africanos por conta de seus recursos naturais.
Aqui, vale outra pequena lembrança histórica: o cenário de guerras e instabilidades políticas que acompanharam a maior parte dos países africanos nas últimas décadas é consequência direta da ação das nações europeias, que colonizaram territórios africanos durante os séculos 19 e 20 e realizaram divisões territoriais sem levar em conta as particularidades étnicas, culturais e religiosas de cada povo.
Como consequência, as riquezas naturais continuaram sendo exploradas pelas empresas dos países ricos, enquanto grupos militares locais disputavam o poder dos territórios africanos.
Apesar da presença do discurso político e social, Pantera Negra surpreende ao retratar a diversidade cultural de todos os povos africanos. Dirigido por Ryan Coogler (que é negro), o filme apresenta trajes, máscaras e marcas corporais que são inspiradas em diferentes etnias. No Twitter, a usuária somaliana Waris mostra algumas das referências presentes no longa-metragem.
Os trajes das guerreiras de elite de Wakanda, por exemplo, são inspirados no povo Maasai, que vivem no sul do Quênia e no norte da Tanzânia:
Já os trajes coloridos utilizados por T'Challa são inspirados em algumas vestes do grupo étnico Akan, que vive no território que compreende Gana — na África Oriental.
Beijos, Luly
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